EP idiom of the week (#129): andar às aranhas

Hoje, regressamos à análise de expressões interessantes utilizadas em português e que são regularmente utilizadas pelos portugueses.

Tal como há duas semanas, esta expressão utiliza o mundo animal como forma de expressar uma realidade muito humana! O animal em questão é a aranha, e a expressão é andar às aranhas – quando alguém anda às aranhas, é sinal que está desorientado e/ou, tal como refere o Ciberdúvidas da Língua Portuguesa“não [é] capaz de se movimentar ou de encontrar a saída num conjunto de dificuldades” [1].

Esta expressão surge da observação de algo ou alguém preso numa teia de aranha; como a teia prende qualquer coisa que toque ou se pouse nela, isto fá-lo ficar mais pobres de movimentos (i.e. mais lentos) e incapazes de fugir às dificuldades (neste caso, tentar não ser comido pela aranha que teceu aquela teia!). Logo, andar às aranhas expressa essa desorientação que sentimos quando temos vários problemas que parecem não ter solução ou para os quais não conseguimos arranjar soluções no momento.

Continue reading

EP word of the week (#128): salto em comprimento / triplo salto

Durante os mais de cem artigos desta rubrica, já tive a oportunidade de demonstrar várias vezes como as diferenças entre os dialetos do português ao nível do vocabulário se estendem de forma insidiosa a várias partes do nosso quotidiano; é verdade que o número de palavras partilhadas é bastante superior ao número de palavras diferentes, mas as discrepâncias são manifestas sempre que se observa a minúcia das utilizações do vocabulário. tanto em palavras comuns como autocarroatacador, ou comboio, como outras mais específicas a certas áreas.

No desporto, tão relevante em ambos os lados do Atlântico, veem-se muitas destas pequenas mudanças e divergências; muitas destas palavras não são utilizados por todos nós (ou pelo menos não de forma recorrente no nosso quotidiano), mas o desconhecimento destas diferenças pode criar problemas de compreensão entre falantes/leitores da mesma língua.

As Palavras do Dia de hoje dizem respeito a dois eventos do atletismo. Aquilo que em Portugal se dá o nome de [o] salto em comprimento tem o nome de [o] salto em distância no Brasil; enquanto o triplo salto deste lado do Atlântico vê o adjetivo e o nome trocados no Brasil – [o] salto triplo.

Nélson Évora, campeão olímpico português no triplo salto.

Continue reading

Ask Luís! (#15): On the sound of word-ending nasal vowels + Text revision

Hello, everyone! Olá a todos!

It’s been a long time since someone asked me a question through the Q&A Form, but I’m glad to be back – hopefully it’s something that can be of help to all of you! Today’s question is from Ben – his message went as follows:

Olá, Luís! Muito obrigado por este sito! Aprendo tanto quando leio os teus postagens!

Tenho uma questão sobre a pronúncia dos vogais nasais. Sei que “am” e “em” se pronunciam nasalmente quando ficam no fim duma palavra. Isto é mesmo quando a palavra seguinda começa com um vogal? Ou se pronuncia o “m”? Alguns exemplos: O homem arrogante… Eles falam apesar de… Elas queriam acabar…

Espero que a minha questão é clara! Também queria que correte a minha gramática se tu podes!

Muito obrigado, Luís!

Ben

 

My answer, as always, can be found just after the jump (:

Continue reading

EP word of the week (#127): vender gato por lebre

Como qualquer outra língua, o português é muito rico em expressões idiomáticas que utilizam várias palavras do vocabulário comum com um significado muito específico.

Uma dessas expressões é um verbo, vender gato por lebre, que significar enganar alguém (ou ser enganado por alguém) ao vender algum serviço como se fosse algo bom, mas que na verdade só traz malefícios ao consumidor. Em termos mais gerais, também pode ser utilizado quando se engana alguém, dando uma ideia de qualquer coisa que está bastante longe da realidade.

Neste caso, a comparação é bastante evidente: um gato (cat em inglês) não é uma lebre (hare, em inglês, da família dos coelhos, rabbits), por isso “vender gato por lebre” é dar a entender alguma coisa (a “lebre”) que acaba por se revelar ser outra totalmente diferente (o “gato“), especialmente quando tal é prejudicial à pessoa afetada.

Um gato e uma lebre.

Continue reading

EP word of the week (#126): rotunda

Palavra da Semana de hoje diz respeito a algo que é muito comum em Portugal: [as] rotundas rodoviárias, utilizadas para fazer circular o trânsito nas estradas portuguesas (em especial dentro e à volta das localidades, i.e. cidades e vilas). Como o nome indica (caso saiba inglês ou alguma língua românica como o francês ou o espanhol), uma rotunda é circular/redonda (algumas podem ser um pouco mais retangulares, mas o termo utilizado é o mesmo).

No Brasil, esta estrutura têm vários nomes, incluindo [a] rotatória[o] girador, [o] balão, e [a] rótula; todos são também palavras em português europeu, mas utilizadas de formas diferentes: rotatória apenas como adjetivo (algo associado a rotações, voltas sobre um determinado eixo), girador como nome ou adjetivo, mas sem estar associado a algo concreto (girador é quem gira ou faz geral), balão pode ser um invólucro de borracha enchido com ar (balloon em inglês), o aparelho de ar quente que se utiliza para viajar (hot air balloon, balão de ar quente) e, informalmente, o instrumento utilizado para fazer testes de despiste de álcool no sangue (Breathalyzer); enquanto rótula é o nome de um osso no joelho (em inglês, patella ou kneecap), também ele de forma circular.

Uma rotunda muito movimentada.

Continue reading

EP word of the week (#125): subtil

Palavra da Semana de hoje retoma um dos temas preferidos deste segmento: apresentar diferenças de vocabulário entre o português europeu e o português do Brasil (e quando for relevante/tiver essa informação, também das várias variantes do português africano).

A palavra que escolhi foi subtil, um adjetivo; no Brasil, escreve e lê-se sem o bsutil; isto acontece para além de outras diferenças de pronúncia próprias dos vários dialetos de ambas as variantes: por exemplo, a maioria dos dialetos brasileiros pronuncia combinações finais de vogal + L como ditongos (/aw/, /ew/, /iw/, /ow/, /uw/); e um T antes de I ou E na última sílaba é pronunciado “tch”,  /tʃ/ (o mesmo som de twitch ou leachem inglês; tchèque, em francês, Tschüss, em alemão, човек, em búlgaro, etc.); logo, no caso de sutil, um português ouve algo semelhante a sutchiu quando um brasileiro (ou alguém que esteja a aprender português do Brasil) fala.

frases-lamentares-a-sorte-dos-que-morreram-e-uma-forma-o-vergilio-ferreira-7705
“To feel sorry for the fate of those who died is an oblique and subtle way to think of yourself as being immortal”, Vergílio Ferreira

Continue reading